Em tempos de polarização acirrada, dá medo (e preguiça) de arrumar encrenca de graça. O problema é que, nesse cenário, a obsessão por consenso é um tiro no pé: quem não está disposta a desagradar alguém, fatalmente não vai agradar ninguém.

A citação acima é de Priscilla de Sá e casa muitíssimo bem com o vampirismo emocional, assunto deste nosso papo. Mas, afinal, o que caracteriza um vampiro emocional e qual seu modus operandi?

Em tese, toda relação que drena nossa pujança merece ser observada mais de perto. Usualmente, este estilo de pessoa desenvolve relações unilaterais, onde a única favorecida é a própria, todavia, diferentes comportamentos validam indivíduos com valores deturpados.

É muito possível que você identifique em seu círculo social a “Maria-Desgraça”, a casta mais popular dos seres das trevas. Se há luto, doença, acidente, fragmentação ou algo que incite dor, lá está ela, de prontidão, atolada de comiseração, de mãos dadas com sua dor. Seria lindo, não fosse trágico. O problema destes vampiros é que o que os alimenta é exatamente aquilo que te faz chegar ao que os budistas chamariam de grau zero de percepção: sua dor profunda, seu fracasso, seu fundo do poço e até seu luto. Experimente dividir o sucesso da realização de um sonho, a empolgação de uma viagem, o deslumbramento por ganhar um presente caro ou uma relação que te empodere. O resultado será esquiva, desprezo, alienação parental e até comparações esdrúxulas.

Em minha última viagem para os Estados Unidos, fiz um tour por Miami e Orlando e aproveitei para realizar meu sonho de conhecer a DisneyWorld. Acreditei piamente que as pessoas que cercavam meu cotidiano aplaudiriam em pé minha conquista. Ledo engano. Houve quem tentasse minguar o valor deste feito e boa parte da minha parentela torceu o nariz para mim por meses.

Claro que a máxima de que a ordem dos fatores não altera o resultado também é válida para relações interpessoais e você pode, simplesmente, ser vítima de um invejoso camuflado numa roupagem inteligente e interessante. A diferença é que, isoladamente, a inveja não é tão nociva quanto parece, aliás, desculpe o trocadilho, me parece se tratar de uma forma torta de admiração. Outro dia, como eventualmente faço, relatei que minha relação com meu marido era delineada por valores abstratos, cujos estavam acima das joias e presentes caros que eu ganhara em quase quinze anos de amor. Declaração despretensiosa, todavia, bastou citá-la para sequencialmente alguém distante manifestar sua invídia e declarar que preferia ter suas roupas recolhidas do varal por seu marido a ganhar dele jóias caras. De cara, dei uma gargalhada sarcástica e admito, senti dó do ridículo alheio. Mas, sob outra ótica, pode ser mesmo que alguma mulher no mundo tenha preferências mais simples que a maioria de nós. Tudo isto para dizer que a inveja corrói mais seu hospedeiro que sua vítima, a menos que a história seja continuada por ambos os lados.

Seguindo o gênero, certamente você cruzou com o furiosinho cheio de razão. Este vampiro tem como ofício acusar, atacar, humilhar, criticar e criar conflitos. São viciados na ira, em reter coisas, em castigar os outros.

A melhor defesa é proteger sua auto-estima para que a zanga alheia não a atropele. Tome tempo, crie pausas e respire. Procure manter-se neutra e equilibrada frente aos ataques de fúria e não responda até que você se sinta calma.

Desta forma, você conseguirá desarmar esta pessoa, deixando-a espairecer para depois expor sua visão, fazendo com que reconheça e perceba sua posição.

Há, ainda, um vampiro emocional especialmente irritante: o sarcástico sem precedentes. Ele adora jogar ironias sobre você, dardos envenenados, e ao mesmo tempo se proteger atrás da leveza de uma “simples graça.” Assim, ninguém pode culpá-lo por ser rude, porque “era apenas uma brincadeirinha boba”. Embora, ocasionalmente, suas observações possam ser engraçadas e espirituosas, a verdade é que muitas delas excedem os limites do respeito e são cruéis para outras pessoas. Se você estiver muito exposto a uma pessoa que faz comentários cortantes sobre você, isto pode acabar com sua auto-estima. Além disso, é cansativo. É como um soldado isolado em território inimigo: você só pode rezar para que as bombas não caiam sobre você.

Como se proteger?

Nem todos os sugadores são experimentados e alguns sequer admitem tais comportamentos. Talvez, suas atitudes sejam embasadas por eventos traumáticos vivenciados no passado (ou talvez por imitar comportamentos e atitudes disfuncionais que presenciou em seus educadores), e o resultado disto é aplicado nas relações com outras pessoas, confirmado por mecanismos de defesa que foram adquiridos e consolidados como parte de sua personalidade.

À vista disto…

O fato de nem todos os vampiros emocionais estarem completamente inteirados de que estão sugando seu bem-estar emocional não é desculpa para desconsiderar o dano que causam a você.

É uma questão de detectar precocemente o problema e tomar medidas adequadas e justas: em algumas conjunturas, uma conversa sincera pode surtir efeito e restaurar a situação. Em outras, contudo, a melhor saída é o distanciamento.

Ser seletiva é muito charmoso!

Superbeijo.

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